Pesquisadores desenvolvem ingredientes multifuncionais para alimentação e agricultura
Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos
atualizado 4 meses atrás
A professora Suzana Mali de Oliveira, do Departamento de Bioquímica e Biotecnologia (CCE), coordena diversas pesquisas no Laboratório de Biotecnologia, onde ela e um grupo de pesquisadores, todos seus orientandos, dividem espaço para seus experimentos e, naturalmente, para festejar os sucessos.
Atualmente, ela orienta uma estudante de pós-doutorado em Biotecnologia; três doutorandos (Biotecnologia e Ciência de Alimentos); e dois mestrandos em Biotecnologia. As pesquisas têm pontos em comum, mas cada uma com seu foco, objeto e objetivos. Além deles, há os alunos de Iniciação Científica (graduação): três da Biotecnologia, um da Biologia e um da Nutrição, quase concluindo sua participação.
Um dos projetos se intitula “Ingredientes multifuncionais ricos em fibras a serem aplicados na nutrição humana – produção, caracterização e análise sensorial”. A ideia é aproveitar ingredientes de resíduos da agroindústria, como cascas e a borra do café, e produzir alimentos humanos, como pães, ração animal (notadamente para animais de estimação) ou, ainda, insumos agrícolas.
A professora Suzana lembra que grande quantidade de resíduos é simplesmente descartada ou incinerada, até para a produção de energia limpa. Porém, mesmo os resíduos descartados são ricos em substâncias, como celulose e lignina. A primeira é uma fibra não digerida por seres humanos, por isso é utilizada em alimentos dietéticos porque não tem valor calórico e dá sensação de saciedade. A lignina é o material aromático renovável mais abundante na Terra e o segundo polímero orgânico mais abundante, depois da celulose. É um tecido vegetal que atua contra a oxidação e a ação de micro-organismos.
Impactos positivos
As pesquisas transformam resíduos em nova matéria-prima para alimentos. Os impactos positivos são muitos: reduz o desperdício de ingredientes, valoriza os alimentos e os torna mais atraentes e saudáveis, agrega valor nutricional e comercial, entre outros. Além disso, destaca Suzana, tudo o que é feito no Laboratório pode ser feito em escala industrial.
Não é fácil. Cada resíduo tem suas propriedades e pode ser mais ou menos difícil de manusear ou processar – como o malte e a laranja, muito úmidos. Já outros fermentam facilmente. No laboratório, os resíduos são submetidos a reagentes químicos e processos físicos, com o objetivo de extrair celulose e lignina, e alterar o teor de fibra. Nenhum reagente é tóxico e todos são renováveis.
Tais procedimentos podem, por exemplo, gerar um ingrediente que tornará o pão mais macio, ou mais apetitoso. E de fato a equipe prepara os alimentos e realiza degustações. O objetivo é obter alimentos ricos em fibras, bioativos, com propriedades tecnofuncionais, como a textura e o sabor.
De acordo com Suzana, as pesquisas já renderam não apenas apresentações em eventos científicos e artigos publicados, como também depósitos de patentes: duas referentes a alimentação animal e três associadas à modificação de celulose. No momento, alguns pesquisadores começam a fazer experiências com micro-ondas sobre os resíduos. A perspectiva é promissora, segundo eles. Seria uma forma de empregar ainda menos reagentes químicos. O uso do calor também não é novidade, pois alguns já utilizavam autoclave.
Pesquisas
Jaqueline Bittencourt é uma das doutorandas e desenvolve pesquisas com a borra de café, fornecida a ela por uma cafeteria. A pesquisadora realiza a extração de componentes bioativos, como a cafeína, faz um tratamento físico com ultrassom e obtém um material com maior teor de proteína e fibras modificadas, capazes de absorver mais água e mais óleo. A produto pode ser utilizado na preparação de diferentes alimentos e, dada suas propriedades anti-estresse oxidativo (que previnem cansaço, ansiedade e outros sintomas), atuaria contra morbidades como a diabetes e o colesterol ruim.