Diálogos entre Brasil e Chile

Departamento de Serviço Social


atualizado 4 meses atrás


O projeto de pesquisa “Produção do conhecimento e pesquisa social: diálogos entre o Serviço Social Brasileiro e Chileno”, coordenado pela professora Sandra Lourenço de Andrade Fortuna, é um daqueles casos em que a oportunidade germina em solo preparado. A professora já conhecia, há cerca de 20 anos, o colega da Universidad de Bio-Bio, de Concepción (Chile), Javier Antonio León Aravena. Trata-se de uma instituição estadual (mas não gratuita) fundada em 1988, multicampi, com mais de 10 mil alunos.

Em julho de 2019, o professor Javier esteve na UEL para uma série de atividades. Participou como palestrante em várias mesas de um Congresso Internacional, proferiu aulas e foi membro avaliador de bancas. Também é membro do Conselho Editorial da do periódico Serviço Social em Revista da UEL (Qualis A2). Foi aí que uma ação de internacionalização começou a ser sistematizada com o objetivo de ampliar as pesquisas e fortalecer o diálogo. No mês seguinte o projeto foi cadastrado, e entrou em fase de execução em outubro daquele ano.

Veio a pandemia. Porém, não parou o projeto. “Começamos a realizar encontros remotos periódicos com professores de várias áreas temáticas. Logo, havíamos extrapolado a análise da produção bibliográfica inicialmente proposta. Também fizemos várias lives, incluindo uma aula inaugural”, relata a coordenadora. A professora é ainda avaliadora de uma revista chilena e em julho irá para Concepción, onde – a exemplo de Javier aqui – participará de uma série de atividades acadêmicas.

Para o professor, o intercâmbio é necessário e positivo para todo o continente, inclusive na formação profissional, que passa pela discussão dos currículos. A ênfase, segundo ele, é no diálogo, no aprofundamento dos temas e na concretização dos projetos de cada instituição, com o reforço da mobilidade. Ele lembra que, ano que vem, serão comemorados os 100 anos da criação da Alejandro Del Rio, a primeira escola de Serviço Social da América do Sul, criada em 1925 num contexto de crise nacional para auxiliar a população chilena. Portanto, é um momento importante e oportuno para colocar em pauta os problemas sociais de lá.

“Temos nossos desafios particulares, em que a cultura conservadora do país colide com os valores da democracia”, diz o professor. Ao mesmo tempo, ele observava o cenário político brasileiro dos últimos anos. “Víamos o Brasil com assombro. Agora, com a volta do diálogo, esperamos avançar”, comenta Javier. De acordo com ele, são muitos os desafios por lá. Como exemplos, a assistência aos povos originários e aos imigrantes, além da pobreza e crime organizado. “Não vão faltar temas para discussão”, aponta. Com relação ao Brasil, ele afirma que respeita muito a produção científica daqui e vê uma oportunidade de aprendizagem mútua, pois também existem contradições e desafios em comum.

Avanços e retrocessos

O que os pesquisadores têm observado é um movimento histórico de aproximações, avanços e retrocessos na formação, atuação e possibilidades profissionais. Em parte, isso se deve à influência do governo vigente, bem como outras forças. A professora Sandra cita um exemplo de avanço: nos anos 70 do século passado, houve uma reconceituação da profissão, que criou um marco teórico, um modo de pensar e agir como profissional do Serviço Social, a partir de demandas da realidade. Este modelo, mais crítico, foi se consolidando conforme a realidade de cada país.

Sandra lembra, entre outros pontos, que as Constituições passaram a prever direitos, mas diferem entre os países. Assim, distinguem-se igualmente as políticas públicas de cada um. Exemplo está na instituição onde trabalha o professor: é pública, mas não é gratuita. “Profissões são construídas, até diante da lógica do Estado e do governo, com seus modelos de educação”, expõe Javier. Outra diferença é que lá o profissional de Serviço Social pode se formar em nível superior (graduação) ou técnico.

Como existem desafios comuns, Javier entende que é preciso compartilhar conhecimento, refletir sobre a própria perspectiva de produção de conhecimento (com vistas à formação profissional) e colocar os direitos sociais no centro das atenções. “Que modelo queremos para o século XXI?”, ele indaga. É um dos pontos em que o projeto objetiva contribuir.

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