Professora pesquisa cyberbullying entre jovens no ensino médio e superior
Departamento de Psicologia e Psicanálise
atualizado 2 semanas atrás
A professora Katya Luciane de Oliveira, do Departamento de Psicologia e Psicanálise
(CCB), recebeu sua segunda bolsa consecutiva para fazer estudos sobre cyberbullying. Contemplada com a bolsa de Produtividade em Pesquisa (PQ) pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desde 2014, enquadrou-se no nível E da última chamada, de nº 09/2023, com seu projeto intitulado ‘Escala de Avaliação do Cyberbullying para adolescentes e jovens dos ensinos médio e superior’.
Este nível, caracterizado pela atuação em sociedades científicas e na editoração de periódicos no país e no exterior, além de gestão científica e prêmios, garante uma bolsa de R$ 75.600, vigente por 36 meses. Katya atua na área psicoeducacional e aprofunda os mais variados estudos sobre violência. Desde a sua bolsa anterior, já começou a trabalhar com o cyberbullying, na construção de escalas específicas. Essas escalas, desenvolvidas para os ensinos médio e superior, abordam a realidade brasileira e são voltadas para indivíduos a partir dos 15 anos.
Nesse novo projeto, ela busca novas evidências de validade e psicométricas para essa população. “Quanto mais a gente sabe e refina a medida, melhor vai ficando o mapeamento e a avaliação desse perfil. Então, a gente tem um banco construído tanto com coleta presencial quanto com coleta online, em diferentes inserções do cyberbullying”, pontua.
O cyberbullying é apenas um braço da pesquisa, que estuda a violência como um todo. “A violência é um fenômeno muito capilarizado. E não tem muito uma fronteira do que, de repente, um bullying passa a ser um cyberbullying”, acrescenta.
Características observadas
A pesquisa se concentra na criação de uma escala de avaliação do cyberbullying, que já possui 45 itens em sua versão atual, com a intenção de mapear os diferentes perfis envolvidos: emissores, vítimas, observadores e retaliadores. “No projeto, a gente vai mapeando esses perfis para ver como funciona o agressor, como funciona o observador – aquele que interfere no ciclo, e o outro que perpetua a violência”, diz Katya.
A complexidade da violência, tanto no espaço físico quanto no digital, demanda uma abordagem metódica e bem estruturada, e as escalas são projetadas para capturar essas nuances. Particularmente interessantes são as análises sobre os perfis dos observadores e dos retaliadores. Os observadores são subdivididos em duas categorias: proativos e perpetuadores. Os proativos são aqueles que se dispõem a avisar a vítima ou comunicar a situação a uma instituição, professor ou amigos, exercendo uma ação interventora no ciclo de violência. Por outro lado, os perpetuadores são os que compartilham conteúdos ofensivos, contribuindo para a manutenção do ciclo de violência, o que é extremamente prejudicial.
Já os retaliadores geralmente são indivíduos que já foram vítimas de bullying em contextos fora do ambiente virtual. Motivados por experiências traumáticas, eles podem se sentir compelidos a agir contra seus agressores no espaço digital.
Participações e resultados
O projeto incorpora a coleta de dados em diferentes estados, como São Paulo, Minas
Gerais, Bahia e Paraná, com o objetivo de garantir a representatividade e a robustez das conclusões. A participação de alunos de Iniciação Científica, mestrandos e doutorandos enriquece a pesquisa, permitindo que eles desenvolvam investigações paralelas dentro do escopo do projeto. “É um grupo grande de pesquisadores. A pesquisa é minha, mas envolve a colaboração de muitos”, ressalta Katya.
A professora tem colaborado com acadêmicos de outras instituições, até de Portugal, como o professor Leandro Almeida da Universidade do Minho, para enriquecer o desenvolvimento da escala e expandir a coleta de dados. Embora a pesquisa esteja focada no contexto brasileiro, Katya pretende expandir para realizar a coleta em outros países também.
Além de sua pesquisa, a professora e sua equipe participam de eventos científicos e
publicações de artigos, contribuindo para a disseminação do conhecimento sobre
cyberbullying e violência nas mídias sociais. O mais recente é o artigo intitulado “Propriedades psicométricas e evidências de validade da escala de avaliação do
cyberbullying”.
Os resultados dessa pesquisa têm grande potencial para influenciar práticas educacionais e políticas públicas. A professora ressalta a importância de tornar a escala acessível a educadores: “Quando a escala estiver bem lapidada, ela vai servir para educadores aplicarem na escola. Não é um instrumento privativo do psicólogo”. Para isso, uma cartilha está sendo desenvolvida para apoiar educadores na implementação das medidas.