Sobre o Departamento

As muitas possibilidades de conhecer e estudar nossa língua materna fazem parte do curso de Letras/Português. Isso inclui literatura brasileira, portuguesa, africanas, infantil e juvenil, em suas expressões narrativas, dramáticas e líricas. Também abrange estudos linguísticos e discursivos, além de textuais e gramaticais. E, como não poderia deixar de ser, também formamos professores(as), para o que contribuem as metodologias e os estágios docentes específicos para uma formação sólida e atualizada. Venha se aventurar no mundo da língua, da literatura e do ensino!

Histórico dos Cursos de Letras: da FAFILON à UEL

1º prédio ocupado pela FAFILON, de 1956 a 1970, nas dependências do Grupo Escolar Hugo Simas (Carvalho, 2006, p. 222)

1º prédio ocupado no campus da UEL quando da transferência dos Cursos de Letras (Carvalho, 2006, p. 222)

Estamos no início da década de 1950. Londrina, adolescente ainda, vem de completar 16 anos, e tem 71.412 habitantes. Maringá, planejada pelos colonizadores para ser a grande metrópole do Setentrião Paranaense, não fechou um lustro, fundada que foi, em 1947. A comunicação é precária. Não existe um metro de estrada asfaltada. Predominam como meio de transporte o aéreo e o ferroviário.

Quatro anos se passaram desde o reconhecimento da Universidade Federal do Paraná. Criada em 1913, foi reconhecida somente em 1946, por força da Constituição Federal, vigente até o momento, que só permitia criação de universidade em cidade com mais de cem mil habitantes.

O ensino médio é precário. São raras as cidades que podem contar com seu ginásio público. O ensino secundário (ginasial e colegial) é artigo de luxo, existe somente para as elites. O espaço é preenchido pelas escolas particulares, em sua quase totalidade, confessionais. Londrina é uma das poucas cidades do interior, que se contavam nos dedos da mão, a desfrutar do privilégio de possuir estabelecimento público de ensino secundário, o Ginásio Estadual de Londrina.

A Constituição de 1946, bem mais liberal que a anterior, se implantava com a lentidão própria de nossas estruturas políticas. As diretrizes e bases do ensino do 2° grau, uniformes em nível nacional, são traçadas por uma simples Portaria, a 50l.

Londrina conta então como 3.500 estudantes secundários, distribuídos por três estabelecimentos de ensino: Colégio Londrinense, particular, confessional, com 1.500 alunos; Ginásio Estadual, mais tarde, Colégio Vicente Rijo, como 1.000 alunos; e o Colégio Mãe de Deus, particular, confessional, com 1.000 alunas, só aceitava pessoas do sexo feminino.

Na região, apenas se esboça o movimento de criação de escolas públicas, de 2° grau1. Movimento que vai crescer, culminando, no final da década de 1960, com a existência de escolas deste nível em quase todos os municípios do Estado.

Mais uma vez, neste campo, o pioneirismo serviu de exemplo para todo o Brasil, possuindo o Paraná, proporcionalmente, na década de 1960, a maior rede de estabelecimento público de ensino secundário do País.

Na mesma década, o ensino superior, em nível nacional, limitava-se a universidades e a escolas isoladas em algumas capitais.

O pioneirismo desbravador da região começa a sedimentar-se. À medida que os desbravadores afastavam-se do Setentrião, os pioneiros, economicamente realizados, pensam num futuro melhor, menos rigoroso para seus filhos: – “Vá estudar, meu filho, assim espero que não sofrerá tanto quanto seu pai”. – Palavras de um pioneiro, ao despedir-se do filho que partia pra estudar em um internato.

À medida ainda que as escolas aumentam de número e vão soltando levas de colegiais: Técnicos de Comércio, Normalista e concluintes dos Cursos Científico e Clássico, jovens, em grande número sem recursos para continuar os estudos na capital, a ideia da criação de cursos superiores na região põe corpo. Os privilegiados que vão estudar fora sabem quanto custam seus estudos. Durante as férias escolares, juntam-se aos colegas e pressionam para seguirem a vinda desses cursos para a cidade.

A ideia empolga. A imprensa escrita e a falada entram na luta e as autoridades, sensibilizadas, desfraldam bandeiras em busca do ensino superior para a região.

Em artigo na Folha de Londrina de 21/08/1954, o articulista, inconformado, assim se manifesta:

“Boa parte destes estudantes, porém, se constitui de alunos daqui do Setentrião (referia-se aos alunos em férias que promoviam manifestações pela fundação de cursos superiores em Londrina).

Esses, à falta de cursos superiores na zona, demandam Curitiba, buscando fontes onde ampliar o horizonte de seus conhecimentos.

Muitas vezes estranhamos desta coluna mesmo a incompreensível diferença com que se olha para esse nosso setor do ensino, negando-se a extensão dos cursos superiores ao mais rico meridiano do Paraná, embora contribuamos tão fartamente pra alimentar as burras do erário do Estado.

Há projetos aprovados e outros em andamento na Assembleia; continuamos, porém, em simples expectativas, desassistidos, enquanto os moços daqui se precisam estudar veem-se a braços com as maiores dificuldades, quando não abandonam, em meio, o interno.

O Norte do Estado necessita com urgência de medidas que alarguem em nossa zona o campo da instrução, pois o decantado progresso que empolga a gente, aqui, deve encontrar sintonia em todos os setores para a evolução conjunta e paralela. Contamos com fabulosas culturas de café, riquezas em abundância – precisamos agora que venham as luzes da sabedoria que enriquecem o espírito. Sem isso a vida se afoga no utilitarismo imediato, aviltada pela sede do ganho, só e só”.

Na linha de frente do movimento pelo ensino superior, está o Professor Zaqueu de Melo, fundador do Colégio Londrinense. Sua intenção primeira era fundar uma Faculdade particular junto a seu colégio, devido ao prestígio de que desfrutava. E quem conheceu Zaqueu de Melo sabe que ele não era homem de deixar morrer as boas ideias. Incentivado pela população, passou a trabalhar. Sua eleição para deputado estadual, em 1954, deu-lhe a oportunidade de que precisava. Em pouco tempo, tinha o projeto da criação da Faculdade Filadélfia pronto para ser vota da pela Assembleia.

Enquanto esse pioneiro do ensino se empolgava com seu projeto, forças da comunidade trabalhavam pela criação de uma escola superior estadual. Sabe-se que a década de 1950 foi marcada pela luta de deselitização do ensino. A criação de uma Faculdade particular na cidade dificultaria a criação de uma pública, fato que já ocorria, em parte, com o Curso Técnico Comercial, como sérios prejuízos para os alunos que não podiam pagar seus estudos.

Foi assim que, com o projeto pronto para ser votado, Zaqueu de Melo viu-o desmontar-se ante as pressões da comunidade e teve a grandeza de espírito de transformar, na última hora, o sonho de ter sua Faculdade de Filosofia, ao mudar o teor do projeto para criação do primeiro curso superior público da cidade, a Faculdade Estadual de Filosofia, Ciência e Letras de Londrina.

Desta forma, no início de 1956, Londrina e região festejaram a criação dos quatro primeiros cursos superiores: História, Geografia, Letras Anglo-Germânicas e Letras Neolatinas.

Justifica-se a criação destes cursos, de preferência a outros, pela necessidade premente de se formar profissionais que atendessem ao ensino médio que se alastrava pela região. Londrina, já com 5000 alunos, tinha raros professores formados em curso superior.

Aqui vale rememorar alguns tópicos que marcaram o ato de criação destes cursos, além dos mencionados. O ano de 1955 foi de muita esperança e trabalho. Em manchete de 23 de abril deste mesmo ano, a Folha de Londrina anunciava: “Deverá ser instalada, ainda no decorrer de 1955, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Londrina”. A notícia é dada ao jornal pelo deputado Zaqueu de Melo e se referia à Faculdade particular que pretendia instalar junto a seu colégio. Não era, porém, a escola que a comunidade buscava.

O ano de 1956 começou para Londrina em estado de graça, no campo do ensino superior. Em 22 de janeiro, o mesmo jornal abria, em caixa alta, o anúncio alvissareiro: “A Faculdade saíra mesmo”. O projeto é do deputado e Professor Zaqueu de Melo, tendo recebido aprovação unânime da Assembleia Legislativa. A aprovação se deu com a assinatura da Lei de número 2.568-A, de 25 de janeiro, pelo Governador Adolpho de Oliveira Franco. A data é pioneira. A reportagem registra o “extraordinário entusiasmo do grande número de estudantes interessados e entidades em geral”.

No mesmo artigo, se verifica o espírito ambicioso do londrinense, próprio do pioneirismo, com o olhar voltando-se lá para bem longe, no outro horizonte, mal tendo galgado a primeira montanha, divisando além, ainda na penumbra, o nascer de sua futura universidade. Eis o relato: “Começamos o ano de maneira auspiciosa em matéria de ensino e é de esperar que outras realizações semelhantes venham a se tornar realidade como, por exemplo, a Escola de Agronomia e Veterinária”.

Apenas um mês se passara e a Folha de Londrina de 2 de março, em artigo assinado pelo diretor do Colégio Londrinense, Professor Galdino Moreira Filho, é explícito ao falar de uma universidade para Londrina: “Acreditamos que, em futuro bem próximo, Londrina será uma espécie de cidade universitária porque, possuindo uma população em idade escolar bem grande, abrange uma extensa área que serve não somente seu município, mas todo o Norte do Estado”.

O “extraordinário entusiasmo” de que fala a reportagem anterior parecia não ter muita consistência, pois, constatou-se que, no primeiro vestibular realizado, para um universo de 160 vagas abertas, foram efetivadas somente 40 matrículas. Este número não se alterou muito, nos seis anos que se seguiram. A partir de 1964, estes números passaram a crescer com as modificações introduzidas no sistema de vestibular que, até então, obedecia a normas extremamente rígidas.

Antes mesmo da autorização para funcionar, em 1965, num gesto arrojado, a Faculdade de Filosofia, apenas criada, tentou realizar, no meio do ano, exames vestibulares para dar início aos cursos, conseguindo apenas cinco inscrições. O obstáculo maior dos candidatos foi a obtenção da carteira de identidade, expedida somente na capital e com muita burocracia.

A autorização para o funcionamento da Faculdade de Filosofia só ocorreu, dois anos após sua criação, pelo decreto número 43.143, de 3 de fevereiro de 1958. O reconhecimento dos Cursos de Letras pelo MEC ocorreu em 1960.

O processo de instalação dos cursos recém-criados foi comandado, na Faculdade de Filosofia, pelo Professor Doutor Lauro Gomes da Veiga Pessoa, coadjuvado pelo Professor Mário Tacahashi, como secretário. Os vestibulares muito rígidos e somados à falta de experiência, de incentivo e, em termos regionais, às dificuldades de transporte, trouxeram aos estudantes obstáculos que só o tempo, muito lentamente, vai sanar. Uma visão do número de estudantes por curso e as inscrições dos vestibulares são uma forte prova da assertiva. Assim, de uma feita, foram inscritos 26 candidatos na Faculdade de Filosofia, para 160 vagas abertas. O curso de Letras Anglo-Germânicas teve maior dificuldade de sobrevivência, neste primeiro momento. Havia turmas com apenas três alunos. O curso de Letras Neolatinas era o preferido. A terceira turma de vestibulandos, a de 1960, contou com 21 alunos matriculados. A preferência pelo Curso de Letras Neolatinas se apoiava no fato de este curso oferecer maior mercado de trabalho. O diplomado em Neolatinas podia lecionar no ensino médio as disciplinas de Latim, Francês, Língua Portuguesa, Literaturas Portuguesa e Brasileira, e ainda, Língua e Literatura Espanhola.

A baixa demanda para os vestibulares e, consequentemente, de matrículas, trouxe temores quanto à sobrevivência dos cursos criados. Ingente foi o esforço dos responsáveis para mantê-los, nos primeiros anos. Em 1959, estava anunciada a visita do Inspetor Federal para a verificação in loco das condições de funcionamento das novas escolas. Na linguagem pioneira, diria que elas funcionavam ainda na fase do galpão de pau-a-pique. Autoridades, professores, diretores, alunos e comunidade se uniram para vencer este primeiro teste e foram aprovados.

A nova escola funcionou no Grupo Escolar Hugo Simas, no período noturno, quando as salas de aula estavam ociosas.

Com o título: “Londrina não pode perder suas Escolas Superiores”, o articulista da Folha de Londrina, em 21 de fevereiro de 1959, comentava, pensando longe: “Toda movimentação e empenho serão poucos no sentido de conservar a extraordinária conquista que significa para cidade as Faculdades de Direito e Filosofia, bases satisfatórias para que se torne realidade, em breve, a aspiração maior que acalentamos: a futura Universidade do Norte do Paraná”.

FONTE: SILVA, Joaquim Carvalho da (Org.). Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Londrina – FAFILON. In: ______. 50 anos dos Cursos de Letras: da FAFILON à UEL. Londrina: UEL, 2006. p. 21-27.

  1. A estrutura do ensino médio, então, abrangia: Primário (4 anos) e Secundário: Ginasial (4 anos) e Colegial (3 anos); e o Curso Superior. ↩︎